quarta-feira, 23 de maio de 2007

Parte 3 - Navios estrangeiros: brasileiros e africanos em São Mateus

A escravidão é algo muito antigo, no Império Romano, por exemplo, havia escravos e eles eram prisioneiros de guerra, a cor não era o fator determinante. E como Portugal era parte de uma província romana, já conhecia a escravidão.

Os portugueses antes mesmo da colonização do Brasil já utilizavam escravos, eles conseguiam esses escravos bancando as armas e as munições para as guerras entre tribos africanas, assim, as mais fracas eram dominadas pelas mais fortes, que vendiam seus prisioneiros para os portugueses em troca de mais armas e munições.

A escravidão para os europeus e brasileiros era algo comum, um hábito, então se acostumaram com isso. Fazer o serviço que era destinado aos escravos era visto, principalmente, como falta de inteligência, então restava a eles, os escravos, continuar a fazer o seu trabalho forçado.

Os negros nunca aceitaram serem escravos, algo normal, afinal, existiam índios aqui, porque eles não eram usados em vez de os africanos terem que ser retirados de sua terra natal para um trabalho subumano?

• Nem todas as tribos plantavam, desconheciam a agricultura, e fazer algo que muitos deles não estavam acostumados aumentava o seu descontentamento.
• Os índios desconheciam o dinheiro e o comércio, plantavam e caçavam para subsistência.
• Nas tribos os homens caçavam e defendiam a tribo, cuidar da agricultura era trabalho para as mulheres e obrigar os índios a fazerem trabalho de mulher era uma ofensa.
• A caça dos índios durava até conseguirem alimento necessário para todos da tribo e após a caça eles ficavam na aldeia com sua família e amigos.
E quando os índios eram escravizados, havia ataques de parentes e amigos para libertá-los.
• Além disso, o governo de Portugal não ganhava nada em imposto com os escravos indígenas, mas com os escravos africanos eles fiscalizavam a chegada dos navios e cobrar por isso. A escravidão era algo lucrativo.

Na época não existiam estradas, todo o transporte era feito pelos rios. Assim o rio Cricaré era a estrada de São Mateus e o porto era a porta.

Em 1750 o porto era usado para mandar mandioca e receber escravos, aumentando os lucros dos produtores e de São Mateus, que se tornou um point para os navios de outras regiões, porque locais em desenvolvimento significava lucro.

O porto tinha um comércio bem ativo e com isso muitas famílias enriqueceram, e em 1828 São Mateus era a província mais rica do Espírito Santo, mais rica que Vila Velha e Vitória juntas.

Por causa do aumento populacional e de fazendas, o comercio de escravos no porto aumentou muito, ele era reconhecido como lugar de parada dos navios negreiros.
Alguns escravos ficavam em São Mateus e outros eram vendidos pra outros lugares do Brasil.
Alguns anos depois uma lei imperial proibia o tráfico de escravos negros africanos, assim o comércio de escravos só funcionava dentro do Brasil. Assim quando os navios chegavam para vender escravos, compravam farinha e assim São Mateus é uma cidade que possui mais descendentes de negros.

Os africanos que aqui chegavam, além de ter que agüentar todo o trabalho pesado e obrigado, plantar cana-de-açúcar ou mandioca que só daria lucro para os seus senhores, já tinham vencido outras batalhas antes. O navio negreiro era a maior delas, porque eles passavam fome, sede, depressão, escapavam de doenças e da morte.
Quando estavam aqui ainda lutavam, abortavam, suicidavam, fugiam e formavam quilombos. Pelo grande número de escravos, São Mateus também possuía um grande número de quilombos.

Para entendermos melhor como foi a escravidão mateense, há duas histórias contadas por Maciel de Aguiar em seu livro “Últimos Zumbis”.
A primeira conta a história de uma escrava que era princesa na sua terra natal, quando o senhor descobriu, obrigou-a a permanecer na Casa Grande e ela apanhava muito. Assim outros escravos angolanos se organizaram, envenenaram o senhor, libertaram a princesa e formaram um quilombo. A princesa tornou-se líder do movimento de libertação dos escravos.

A segunda fala sobre uma escrava, Constança, que teve seu filho morto pela sinhá que não gostava de choro de criança e então o jogou na fornalha. Os escravos se tentaram se rebelar e a sinhá teve que sair da fazenda e Constança sofria no tronco. Alguns negros fugidos a libertaram, assim começou a sua caça contra os capitães-do-mato. Zé Diabo, capitão da antiga fazenda onde ela trabalhava foi morto com a garganta cortada e Constança morta por um tiro.

Thamila Barcellos

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